25/02/2016

Pela humanização do judiciário

Imagem do site ensinodomestico.ning.com
          Carlos sempre foi um cara muito humano. Trabalha no judiciário já faz quase dez anos. É magistrado. Pode não fazer a diferença para a "grande sociedade", mas com certeza faz para aqueles que trabalham com ele e para aquela pequena comunidade em que vive com sua esposa e filha.

          Todos os dias antes de ir ao trabalho, Carlos ajuda a filha nas tarefas. Mesmo nos dias mais corridos. E hoje era um desses dias, pois haveria sessão do Tribunal do Júri. Um julgamento importante que mobilizou a cidade e que iria começar às dez horas da manhã. 

          Era 9:20h e Carlos estava atrasado. Contudo, morava perto do Fórum (a cidade era pequena) e estava colocando a gravata. Dentro da casa seu assessor o Renato tentava apressar o “chefe”: “Vamos, Doutor Carlos... Se a gente se atrasar, o promotor e o advogado vão “cair de pau” em cima da gente. Esse julgamento é muito importante!”

          Carlos olhou tranquilo para Renato e falou: “Calma, rapaz. Falta só ajudar a Marina numa pequena tarefa da escola e nós já vamos”. Era 9:30 e Marina - com seus lindos olhos amendoados -  estava preocupada em como resolver o tema da escola. Carlos sempre dedicava tempo para Marina. Era um pai amoroso, um bom marido e uma pessoa que todos respeitavam e gostavam na cidade.

          Na mesa da sala, Marina, com seu caderninho aberto e na suprema inteligência dos seus nove anos de idade, perguntou: “Papai, qual é o pronome de tratamento do Papa?”; Carlos ajustando o paletó e pegando a pasta com os documentos respondeu: “É Sua Santidade, meu amor...”; continuou Marina: “...e para Reitor papai? Qual o pronome de tratamento?”. E Carlos, ainda em tempo, respondeu: “é Magnífico, minha amada”; Marina logo emendou outra: “e para Príncipe?” e Carlos respondendo: “é Vossa Alteza, meu anjo”, de olho no relógio e quase na hora,  Marina faz a última pergunta: “e para Cardeais, papai? Qual é o tratamento?”. Carlos responde: “é Reverendíssima, Marina... Mas me diga uma coisa, filha, e Juiz não tem aí?” E Marina, numa daquelas gargalhadas que só as crianças conseguem dar, olhou para seu pai com aquele olhar cheio de brilho e falou: “Ah papai...! Juiz é você!”

Um comentário:

  1. Que texto fantástico! Diz tanto sobre humanidade, despojamento, igualdade e, acima de tudo, sobre a desnecessidade do culto reverencial para denotar respeito por quem quer que seja. Respeito a pessoa consegue é sendo humana!

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