14/08/2014

Um mês de greve, 95% de adesão e... vitória!

            A história pode parecer de um sindicato mais radical, de uma categoria super-desvalorizada, de pessoas que não sabem dialogar e que não conhecem de modernas técnicas de negociação. Mas ao contrário. Trata-se de um relato da mobilização dos magistrados por conquistas salariais.

            A conquista é uma experiência vivida pela magistratura, conforme parte do relato extraído da entrevista do Desembargador José Carlos Carstens Köhler. No texto, que se encontra no site da AMC, o Desembargador fala das duas greves que os magistrados catarinenses já realizaram, na época que ganhavam salários que consideravam baixos.

“Atravessamos aquela época do plano cruzado e aí iniciou um novo governo - 1987 - período em que a magistratura foi mal remunerada. Ele não queria dar aumento e nós acabamos sendo obrigados a realizar uma grande mobilização. Houve a promessa de ajustar, acertar os nossos atrasados até o final de 1988. E eu fui um dos poucos que teve a coragem de chegar no presidente da AMC e disse que não endossaria aquela situação, porque ninguém muda abruptamente o tratamento a uma classe profissional. Tudo isso acabou culminando na nossa primeira greve. Isso foi entre novembro e dezembro de 1988. Um mês de greve. Foi inédito no Brasil. Mais de 95% da magistratura parou por um mês”, lembra. A repercussão causada no seio da sociedade pela primeira greve da magistratura catarinense, como era esperado, foi negativa. Após um mês, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina (ALESC) acabou aprovando as reivindicações dos magistrados. O governador, por sua vez, vetou o projeto, o qual foi derrubado pelos parlamentares. “Valeu a luta. Com todo o respeito, mas é de se lamentar a omissão de alguns, pois aqueles que não acompanharam com o movimento, também se beneficiam, embora a omissão seja falta imperdoável. Mas, faz parte”, diz.
Em 1991, os magistrados novamente entraram em greve. “Foi também decidida numa assembleia da AMC, tendo só uns quatro votos contrários. Essa greve também se deu por questões salariais. Ficamos mais tempo parados do que a anterior. A magistratura se mostrou unida. Foram poucos os que não aderiram. A situação era muito ruim antes da greve. Recordo-me de quando fizemos a primeira greve, eu era juiz em Taió e ganhava 10% a mais do que o contínuo da agência do Banco do Brasil. Um desembargador ganhava menos do que um caixa do banco executivo auferia. E assim, a Associação foi ganhando corpo e envergadura diferentes, que eram necessários”, assinala.”*

            Quem considera que apenas as conversas e as boas relações são capazes de angariar conquistas, é bom lembrar e ver os exemplos que já foram apresentados até pela própria magistratura. Mobilização é fundamental para ter força política e ganhos financeiros.

*Texto: Fabrício Severino
Publicado no Jornal O Judiciário em julho de 2011


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