13/10/2014

"E a auditoria hein? Quando vai acabar?"

(Conversa entre dois amigos)

- E a auditoria hein? Quando é que vai sair o resultado? Não era para 30 dias depois da assembleia? A assembleia foi em julho, já estamos chegando no final do ano...

- Calma.! A auditoria só vai sair no último ano da gestão. Pouco antes da eleição.

- Mas por que?

- Ah! É que daí fala-se o que quiser e não haverá tempo para desdizer o que se disse né! Aí fica fácil! Até provar que “focinho de porco não é tomada”, a gente se faz.

- Mas não era para estar pronto lá no início deste ano? Pela carta convite o negócio já devia estar concluído em abril, no máximo maio. Até disseram, quando convocaram a assembleia que já estava tudo pronto?!

- Você não entendeu ainda? Eleição!!! Vamos soltar isso lá próximo da eleição!

- Mas então acharam alguma coisa?! Eles fizeram doações para partido político né? Lembra disso na eleição? Tem recibo de doação para campanha né?!

- Não! Não tem nada disso! Mas a gente não pode dizer que não tinha né?! O importante é deixar a dúvida no ar. É mais importante até do que afirmar. A dúvida dói mais! A incerteza é ótima nestas horas!

- Mas e o empréstimo feito onde a antiga sede foi colocada como garantia? Foi ilegal né? Eles não podiam fazer aquilo né?

- Não é bem assim. O estatuto diz que a “venda” ou a “compra” de imóvel deve passar por assembleia. O que eles fizeram foi um empréstimo, que já foi pago na própria gestão deles. Mas o importante é dizer que o negócio foi feito sem passar por assembleia, mesmo sem a necessidade de passar.

- E a venda da antiga sede. Aquele apartamento pequenino de dois quartos na Silva Jardim. Eles podiam vender? Não tinha que ser nosso para sempre?

- Olha! O apartamento foi vendido conforme deliberação de assembleia. Até eu estive lá. Foram dois votos contrários. Mas foi aprovado pela ampla maioria. Para a transferência eles tiveram que registrar todos os documentos necessários para poder efetuar a venda. Mas é que eu não achei o edital de convocação.

- Ah! O edital da assembleia! Não têm? Ótimo. É por aí. Isso mesmo. Se não foi achado o edital, mesmo tendo ata, mesmo tendo lista de presença, mesmo tendo tudo pede para anular a venda. É isso. Ótima ideia.

- Que bom que você também achou isto. Eu também achei ótimo. Mesmo que tenha o edital naquela página da internet que foi hackeada né. Ou tendo publicado no Diário Catarinense o edital. Mas deixa. Eu não achei em nenhuma pasta que tava lá no SINJUSC. Então não teve.

- Mas conta. Devem ter achado algo mais pesado! Algum desvio?

- Tem uns cafezinhos que foram pagos no aeroporto, junto com uns pães de queijo. Foi uma fortuna. Uns R$20,00 por dois cafés e dois pães de queijo. Eles não tinham pena do dinheiro. Gastavam mesmo. Chegaram a comer uma empanada veja só.

- Que coisa! Uma empanada? Absurdo! E aquelas doações hein? Doaram dinheiro para entidades? Foi doação alta né? Coisa de mais de milhares de reais né? Tá lá nos boletins. Eu ví. E o Conselho Fiscal era favorável! Bando de vendidos! Para quem eram aquelas doações?

- Era pro projeto Fazendo Escola infelizmente. Era para algo que é de controle do próprio sindicato. O dinheiro foi usado para pagar a pesquisa de saúde mental. Fazer o transporte dos professores que auxiliaram no curso Trabalho Público e Sindicalismo. Mas nós vamos dar um jeito de dizer que foi algo estranho. O importante é dizer que foi estranho.

- Putz! Não dá para pegar por ali então. Ah! Mas tem aquele andar administrativo que vocês disseram que foi cedido para a TV comunitária. Isso é sacanagem mesmo. Dava para ceder espaço para as associações né? E eles diziam que era uma garagem! Que bando!

- Pois é! Eu fui na prefeitura. E aquilo era mesmo uma garagem. Foi a prefeitura até que determinou que fosse colocado um elevador de carro, pois tinha que ter dois andares de garagem por conta do auditório. Daí que eu fui entender. Lá na prefeitura tá tudo certo. Ali vamos dar com os burros n’água.

- Êita vida! Mas tem o auditório! Aquele que eles cediam para os grupos de capoeira, outros sindicatos e até para os partidos deles. Tudo de graça!

- Bem! Não era bem assim! As entidades sindicais e associativas usavam o auditório gratuitamente. Era mesmo para ajudar. Agora para partidos há até email confirmando a determinação de cobrança. Nós é que estamos cedendo para o TJ de graça né. Pegou mal esse negócio de “Termo de Cooperação”!

- Que coisa! Mas tem que ter um jeito. Temos que achar alguma coisa nesta auditoria. Não tem algo assim pesado! Algo que realmente pegue? E aquelas cervejas para o Bloco de Carnaval?

- Pois é! Ali a gente deu uma de Ricupero às avessas. “Escondemos o bom e mostramos o mal”. Nós só falamos da saída do dinheiro né! É que tem o ingresso também. Eles cobravam pela camiseta e pela bebida. Se for contar, o valor recebido pagava toda a bebida e sobrava. Mas acho que pode ser por aí né?

- Não sei. Acho que é pouca coisa. Tem a banda também né? Acho que a banda é uma coisa que pega. Você não acha?

- É que o estatuto diz que a gente deve fomentar a cultura. Mas eu tô na dúvida. Música tem algo a ver com cultura? Carnaval tem algo a ver com manifestação cultural?

- Eh! Fica meio difícil caminhar por aí. Mas tem as doações para a TV comunitária. É aí! Vamos pegar eles por aí.

- Ich! No Congresso de Balneário Camboriú todos foram favoráveis a apoiar e fomentar as tvs comunitárias. Até nós que estávamos lá fomos favoráveis. Não tem como pegar por aí. E isso também já foi discutido em várias assembleias.

- Mas tem os valores que a TV nunca pagou. Taí cara! Vamos fundo nisso!

- É que a TV veiculava em troca a campanha para votar para presidente! Hoje várias entidades encamparam isto. Até os juízes querem. Fiz um levantamento e na verdade se fosse para cobrar essa propaganda o SINJUSC saiu ganhando muito. Em preço de mercado nós é que estaríamos devendo para a TV.

- Mas não pode! Tem que ter algo! Não dá para ficar assim! Diga uma coisa ao menos para que possamos garantir essa auditoria. Pagamos uma grana nela!

- Bem. Eu não queria apelar. Mas eu reparei que tão faltando uns dois lápis e uma caneta...

(Essa história é apenas uma ficção. Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência)

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