A história pode parecer de um
sindicato mais radical, de uma categoria super-desvalorizada, de pessoas que
não sabem dialogar e que não conhecem de modernas técnicas de negociação. Mas
ao contrário. Trata-se de um relato da mobilização dos magistrados por
conquistas salariais.
A conquista é uma experiência vivida
pela magistratura, conforme parte do relato extraído da entrevista do
Desembargador José
Carlos Carstens Köhler. No texto, que se
encontra no site da AMC, o Desembargador fala das duas greves que os
magistrados catarinenses já realizaram, na época que ganhavam salários que
consideravam baixos.
“Atravessamos aquela época do plano cruzado e aí iniciou um novo
governo - 1987 - período em que a magistratura foi mal remunerada. Ele não
queria dar aumento e nós acabamos sendo obrigados a realizar uma grande
mobilização. Houve a promessa de ajustar, acertar os nossos atrasados até o
final de 1988. E eu fui um dos poucos que teve a coragem de chegar no
presidente da AMC e disse que não endossaria aquela situação, porque ninguém muda
abruptamente o tratamento a uma classe profissional. Tudo isso acabou
culminando na nossa primeira greve. Isso foi entre novembro e dezembro de 1988.
Um mês de greve. Foi inédito no Brasil. Mais de 95% da magistratura parou por
um mês”, lembra. A repercussão causada no seio da sociedade pela primeira greve
da magistratura catarinense, como era esperado, foi negativa. Após um mês, a
Assembleia Legislativa de Santa Catarina (ALESC) acabou aprovando as
reivindicações dos magistrados. O governador, por sua vez, vetou o projeto, o
qual foi derrubado pelos parlamentares. “Valeu a luta. Com todo o respeito, mas
é de se lamentar a omissão de alguns, pois aqueles que não acompanharam com o
movimento, também se beneficiam, embora a omissão seja falta imperdoável. Mas,
faz parte”, diz.
Em 1991, os magistrados novamente entraram em greve. “Foi também
decidida numa assembleia da AMC, tendo só uns quatro votos contrários. Essa
greve também se deu por questões salariais. Ficamos mais tempo parados do que a
anterior. A magistratura se mostrou unida. Foram poucos os que não aderiram. A
situação era muito ruim antes da greve. Recordo-me de quando fizemos a primeira
greve, eu era juiz em Taió e ganhava 10% a mais do que o contínuo da agência do
Banco do Brasil. Um desembargador ganhava menos do que um caixa do banco
executivo auferia. E assim, a Associação foi ganhando corpo e envergadura
diferentes, que eram necessários”, assinala.”*
Quem considera que apenas as
conversas e as boas relações são capazes de angariar conquistas, é bom lembrar
e ver os exemplos que já foram apresentados até pela própria magistratura.
Mobilização é fundamental para ter força política e ganhos financeiros.
*Texto:
Fabrício Severino
Publicado
no Jornal O Judiciário em julho de 2011
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