11/06/2015

Pedaladas...

Imagem do site webventureuol.uol.com.br
          Nos últimos meses tem-se ouvido com frequência a expressão “pedalada” como sinônimo de atos e decisões equivocadas cujo resultado foi insatisfatório. São as pedaladas do governo, na área fiscal, na área econômica e administrativa. Entretanto, as pedaladas não tem sido prerrogativas exclusivas da função executiva, também pedalam o legislativo e o judiciário.

          Observemos o judiciário catarinense, estringindo-se a observação apenas a área administrativa.

          1) A Resolução 03/2013, de 02/05/2013 dispôs sobre a tramitação do processo eletrônico e posteriormente a Resolução 32/2013 de 27/05/2013 criou o cargo de segundo assessor de gabinete sob o argumento da “ necessidade de se deslocar a força de trabalho dos cartórios para os gabinetes de magistrados, cuja mudança demonstra como o processo eletrônico pode levar a uma melhoria na atividade jurisdicional, uma vez que é no âmbito do gabinete que são
produzidos os atos que justificam a sua existência”.

            Resolução menciona a redução das atividades cartorárias, haja vista que o SAJ5 foi estruturalmente planejado para que a emissão de todos os documentos que dependessem de assinatura do magistrado fosse feita em gabinete. Ao assinar o despacho ou decisão o magistrado assinaria simultaneamente os expedientes necessários para o cumprimento da ordem. O processo eletrônico foi instalado em todas as comarcas, os cartórios cederam servidores para exercer a função de assessor de gabinete, mas, em contrapartida, continuam
sendo responsáveis pela emissão de todos os expedientes cartorários. Ou seja, houve transferência de mão de obra, mas não de serviço. Considere-se  ainda que se o segundo técnico de gabinete for analista jurídico não recebe nenhuma gratificação correspondente ao cargo. Desempenha a mesma função do primeiro assessor, tem a mesma responsabilidade, cumpre o mesmo horário, mas paradoxalmente recebe menos.

          2) Para que os servidores dessem conta do serviço, a Resolução 6/2013-GP de 27/09/2013 instituiu o banco de horas, lembrando que os cartórios estão com servidor a menos por conta da cessão de um servidor ao gabinete, foi dada aos servidores a possibilidade de trabalhar mais, com a promessa de “folga posterior” já que por ser estatutário e não celetista não tem direito a hora extra em valores pecuniários. Porém, além de dar conta do seu trabalho em jornada superior à diária, tem que ceder gratuitamente ao Poder Judiciário a oitava hora. Mais trabalho, menos servidores e mão de obra gratuita.

          3) A Resolução 12/2015, de 26/05/2014, concedeu aos servidores auxílio-saúde. O direito foi amplamente alardeado, todos seriam beneficiados, pois o judiciário catarinense se preocupa com a saúde de seus servidores. Resultado: o valor do auxílio-saúde foi instituído em benefício
do próprio TJ. Talvez ele precise, depois de tanto pedalar deve estar fraco, cansado, com a saúde debilitada.

          Mas a pedalada continua, a corrida ainda não terminou.

          4) O famoso PL 05/2015 – Gratificação de 50% para os servidores que tem curso superior. O benefício atingiria a grande maioria dos servidores do judiciário catarinense. Na prática, a tabela de cargos e salários seria um disparate, pois os ganhos do menor cargo da tabela, se o agente tivesse formação em direito, seria superior ao do cargo posterior ou de nível
máximo. Havia também um limitador, de modo que a gratificação seria uma indenização regressiva. Na história do recursos humanos é a única vez em que se ouve falar de aumento regressivo. Em regra todo benefício é progressivo, tanto que se fala em progressão de carreira. Detalhe: a gratificação era na verdade de 30% e não de 50% como alardeado.

          E por fim, deixando de lado a conversão de licença-prêmio em dinheiro, a
mais recente: Cansados de tantas pedalas os servidores pararam, não dava para acompanhar,
o ritmo estava em descompasso, mas em vez de ajuste, veio a imposição final:

          Todos tem que pedalar no ritmo da instituição.

          O destino ninguém sabe, o resultado também não, mas pedalar é preciso, é função essencial da justiça, é atividade-meio, não importa a atividade-fim. Parar é ato ilícito, os infratores tem que ser severa e duplamente penalizados. Não importa se se anda em círculos, se ao final se volta ao ponto de partida, sem ganhos e sem vitórias e com resultado ineficiente para
os destinatários da prestação jurisdicional.

          Falando em voltar ao ponto de partida...

          Tenho observado que a administração pública anda para trás, estamos voltando ao tempo dos altos impostos, do trabalho escravo, e tenho a impressão que nessa viagem de retorno estamos quase chegando a 1215, época da carta do João sem-terra, quando os poderes do rei tiveram que ser limitados por uma carta constitucional.

          O triste é que ainda vale o adágio popular: contra a força não há argumentos.

          Ainda mais quando a instituição é ao mesmo tempo ré e juíza.

          Talvez seja necessário ressuscitar Robin Hood, para retirar da corte e dar aos súditos, só que invés de retomar o dinheiro, retomar-se-iam direitos; ou, talvez Montesquieu para reinventar a separação dos poderes...

          Enquanto isso não acontece, continuemos pedalando...

          Ou nos recusemos a pedalar e paguemos com nossos proventos.

          Uma comissão de 10% pelo exercício do direito de greve e posterior gozo de um direito conquistado não é tão penosa assim, afinal os escravos anteriores pagaram mais caro, muito mais caro.

          Eles pagaram com suas próprias vidas.

Texto de uma amiga navegante.

15 comentários:

  1. "Ainda mais quando a instituição é ao mesmo tempo ré e juíza."

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  2. Pedalada é 400 reais para hospedagem e 120 para UMA refeição. ISSO é a legítima pedalada fiscal!

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    1. Fiquei sabendo, aguardo o que a oposição fará sobre o assunto!

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    2. Acho que não é bem assim. Li atentamente o relatório no site do sinjusc e as justificativas do colega no post anterior. Quantos viajaram pelo estado como ele? Ele foi o único que esteve na minha comarca. Ninguém da chapa atual e muito menos da anterior. Lembro que dormiu na casa de um colega aqui do fórum. Comprou lanche no mercado para o pessoal que estava na greve do lado de fora do fórum. Não conheço o carioca do dia a dia, mas posso dizer que é um dos caras mais sensatos que já ouvi nas assembleias. Além disso, foi um dos poucos que estava interessado apenas na greve e não nas brigas de chapas. Por fim, eu o respeito e se eu estivesse no judiciário quando ele concorreu, teria votado nele. Pedalada é ouvir colegas julgando quem se dedicou à greve e falando absurdos sem sequer ler o que já foi dito a respeito. Julgamento precipitado. Isso sim é pedalada...

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    3. É sério mesmo? Agora vamos focar no colega que saiu de Lages em pleno sábado com a esposa e o filho de alguns meses para reunir com colegas grevistas e hospedar-se num hotel com pensão completa e pagar 400 reais por uma diária? Preocupei-me após a tal boataria em ligar para o tal hotel em Itá. O valor é aquele mesmo. E há alguns até mais caros. Onde vcs ficariam com a família. Certamente em casa... Que tal focarmos no PCS??? Já estou cansada destas besteiras de auditoria, ameaças, disse me disse. é por isso que estamos onde estamos. Enquanto uns batalham outros só metem o pau!!!

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    4. Ia esquecendo: tanto o carioca quanto o sinjusc disseram que ele foi o único que prestou contas das atividades e fez relatórios das viagens. Nenhum outro membro do comando fez. E aí? O que a oposição vai fazer acerca disso? Pelo que eu sei, até membros da oposição fizeram parte do comando... onde estão os relatórios??? é cômodo ser oposição...

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    5. Pedalada é ficar criticando colegas que se dedicaram à greve e que hoje sofrem essa "in justiça" no "em justiça". Conheço o colega há mais de dez anos e confio plenamente no trabalho dele. Enquanto uns criticam e inventam coisas, outros se dedicam à categoria. Quem conhece o Carioca, viu o quanto ele correu nesta greve e leu o que ele escreveu acerca disso, só tem a agradecer o esforço que teve em abrir mão da própria família para fazer o que fez. Quando vejo o que estes irresponsáveis falam dele, tenho vergonha de ter votado pela volta ao trabalho. Mas quando vejo que de um lado está a turminha do Volnei (que abandonou a greve) do Claudio (que não entrou na greve de verdade) e do outro a turminha do Mauri (que mentiu pra categoria) e do Laercio (que é um dos presidentes mais fracos que tivemos), vejo que estamos entre a carroça e o carroceiro...

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    6. Bom dia. Primeiro é importante dizer que o blog não atacou nenhum colega. Ao contrário, fiz aqui no blog a defesa daqueles que se dedicaram ao trabalho e defendi o Carioca pela sua dedicação, e não foi apenas nesta greve que fiz esta defesa, também o fiz, como ele sabe, noutras vezes apesar de termos pontos de vistas muito diferentes no sindicalismo. Quem deve julgar se o gasto foi muito ou pouco, se levou ou não filho para final de semana em Itá não sou eu, é a categoria. O colega anônimo que me ataca eu questiono como é que eu "não entrei na greve de verdade"? Existe entrar na greve de mentira? Fiquei 47 dias na frente do TJ. Fiz parte do comando local de greve organizando o movimento em Florianópolis, fiz visitas em alguns locais de trabalho (sob minhas expensas e sem pedir nenhum valor ao SINJUSC, pois eram comarcas da própria Florianópolis), e fui impedido de visitar outras comarcas conforme determinou a Direção do SINJUSC. Alguns colegas do Comando, com a unção da Direção do sindicato, foram visitar várias comarcas. Eu fui proibido apenas. Tive desconto salarial no mês de maio, provavelmente terei no mês de junho, e gostaria profundamente de saber o que é não entrar na greve de verdade? Seria fazer que nem a Direção do SINJUSC que não cedeu material para iniciar a greve? Ou ficar encastelado dentro da sede do SINJUSC os 47 dias sem visitar nenhuma comarca? Ou não fazer toda a política com a Deputada Luciane Carminati e Dircdeu Dresch sobre a audiência do orçamento do TJ? Ou não organizar as manifestações em Florianópolis que o SINJUSC não publicou uma foto? Perseguição é perceber que o SINJUSC aplaudia as mobilizações de Joinville e Chapecó e apedrejava qualquer movimento em Florianópolis (e eu aplaudo Joinville e Chapecó pelos atos). Este blog faz críticas, aceita críticas, gosta que os colegas opinem, mas não aceita xingamentos e palavrões, ou achincalhamento de colegas como este anônimo (e covarde) das 21:59 faz a colegas como Volnei ou que fica criticando este blog que permite livremente o debate em seus comentários, diferente do SINJUSC e da ATJ que aboliram as manifestações em suas páginas (engraçado, todas entidades onde o Laércio é dirigente). Para concluir venha perguntar para colegas de Florianópolis (Fabiano, Marceli, Campiglia, Luciana, Agda, e tantos outros) como foi a greve aqui e quem ajudou a construir como poucas pessoas. Claro, sempre existirão pessoas como você que só sabem criticar, esconde-se no anonimato, e possuem raiva profunda só pelo fato de pessoas como eu e Volnei existirem e respirarem. Sinto muito colega, meu objetivo é viver muito, respirar bastante e fazer muita política a fim de ver melhorado o nosso sindicalismo aqui no SINJUSC. Azar o seu.

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    7. Prezados colegas, independente de posições que apoiam ou detonam, agradeço a ambos os questionamentos e intervenções, pois oportuniza falarmos no assunto e deixar claras as coisas. Eu estive na capital poucas vezes ao longo da greve, mas nas vezes em que estive encontrei tanto o Dal Prá como o Volnei. Inclusive fizemos um "arrastão" juntos no TJ/SC. Não posso falar nada acerca do que não vi. ? Diferente de muitos colegas que querem desgastar outros com fatos que sequer presenciaram, lembro que trabalhamos no Judiciário e buscamos justiça. Justiça é direito + moral. Não posso falar nada dos colegas das duas gestões diverso daquilo que vi. Só posso afirmar o que presenciei. Não compactuo das práticas políticas e da dinâmica que dão ao sindicato, mas daí dizer acerca de auditoria, falcatruas, gastos com greve. Posso dizer que em ambas as gestões fui atendido em tudo que precisei: material, transporte, alimentação, hospedagem. Realmente não me recordo das gestões fazerem prestações de contas específicas da greve. Ambas as gestões demonstraram equívocos e acertos. Isso faz parte da vida política. Odeio acusar colegas e manter o anonimato. O que venho notando aqui é isso. Colegas que utilizam de pseudônimos ou do anonimato para tentar ferir a dignidade das pessoas. Minha esposa é Professora Estadual no RS e lá a briga sindical é forte no CEPERS Sindicato, com correntes internas de partido político e entre os próprios partidos políticos, mas ela ficou assombrada do nosso nível negativo de acusações e anonimato. Temos que manter este blog como um colega falou: "jurisprudência" da nossa greve. Não podemos transformar este blog num octagon de MMA onde por trás do anonimato brigam de forma suja e sorrateira num ground & pound sem tamanho até a finalização (da reputação) dos colegas. Não vão conseguir. Tanto eu (Carioca), como o Dal Prá, como o Volnei, como o Mauri, como o Laercio, temos uma história e haverá pessoas que apoiam e outras que não. Todavia esta história foi construída com muita luta e dedicação a uma categoria. Cada um tentou construir com as ferramentas que achou devido. Podemos discordar das ferramentas e da forma de construir, ou seja, discordamos do método e da forma, mas em muita coisa concordamos com o conteúdo. Sugiro a todos e todas que conheçam melhor quem dedica-se e luta por esta categoria antes de blasfemar. Por fim, convido, em particular, para lerem minhas razões e minha prestação de contas. É verdade! Fui o único a prestá-la de forma política e financeira, e o fiz dia 25 de maio, ou seja, no último dia de greve, mas isso é um dever de minha parte e encaro contas (públicas) de forma muito séria. Mais séria que meu parco orçamento doméstico. Vamos lá, pessoal! Por fim eu concordo: ESTAMOS PERDENDO O FOCO DO PCS!!!!! Responsabilidade. Somente assim seremos grandes!!! Claudio Carioca - TJA 11697

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    8. Parabéns Carioca. Gostaria agora de ver a tua cobrança, como dissestes que irias fazer, à direção do sindicato, cobrando a prestação de contas da greve face a defesa da utilização do dinheiro do imposto sindical (lembro que foram por dois anos a cobrança sem a devida contrapartida). Não espero outra coisa de você que não este espírito "cobrador".

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    9. Creio que esta cobrança deva ser de todos e todas. A minha eles já têm. Conte comigo! Assim como cobrei de outras gestões, cobrarei desta também. Isso é transparência e lisura. Forte abraço! Claudio Carioca - TJA 11697

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  3. Profunda reflexão.

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  4. Faltou só falar das pedaladas da atual gestão sindical. A principal delas: a eleição já passou!!! Concentrem-se no fato de que uma soma de fatores os tornou protagonistas da história: foi em sua gestão que ocorreu a maior coesão em prol de uma greve no judiciário! O que conseguiram? Desacreditar a instituição sindical e desmobilizar a categoria - isto dentre outras tristes constatações!
    Sobre as críticas que recebem da antiga gestão, o que esperavam? Quando há uma SITUAÇÃO no comando, o que faz a oposição? Cresçam em maturidade e sensatez.

    E por último, mas tão importante quanto, este blog acabou se tornando jurisprudência porque sempre foi mais esclarecedor que a atual gestão sindical. As notas de um parágrafo NUNCA explicaram como são as MODERNAS FORMAS DE NEGOCIAÇÃO, as deliberações pelas constratações de "renomados" escritórios de advocacia e os acertos de contas.

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    1. Concordo com o amigo, foi sempre aqui que eu vim buscar informações... a SONEGAÇÃO de informação feita pela atual gestão aprofunda um certo "dirigismo sindical" a níveis inaceitáveis!

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  5. Muito boa análise. "...ou, talvez Montesquieu para reinventar a separação dos poderes..."

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